Por Magali Colonetti | Foto: Allyne Laís, em 26/07/22
Em frente ao altar na capelinha montada na Praça do Encontro os pedidos, as ave-marias e os pai-nossos começaram a ser rezados. Entre cada oração, pedidos para uma boa festa, proteção e saúde de todos. O povo Kalunga iniciava sua festa saudando o sagrado e sua fé.
"Acolá eu vi um velho
um velho de muita valia
parecendo São Gonçalo
filho da Virgem Maria".
Os benditos também foram cantados e esse foi um deles. Cantos de tradição oral cantados em terços, novenas, procissões, cerimônias fúnebres e romarias são elementos fundamentais do universo do catolicismo popular. E eles cantaram rezando para Nossa Senhora de Santana, São Nicolau, São Bartolomeu, Santos Reis, Santa Luzia, São José, São João e também para o Divino Espírito Santo. Um aquecimento para a procissão das candeias que circulou por algumas ruas da Vila de Jorge. Pessoas da comunidade Kalunga, moradores da vila e turistas caminharam juntos. Uma delas era a Gisele Aleixo, moradora que retorna a Vila de Jorge e também retorna ao Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros. "Caminhei rezando e agradecendo numa postura de respeito pelo sagrado deles. Acho que um dos momentos mais bonitos do encontro é a procissão das candeias", contou. Ela aproveitou e fez um pedido e também dizia para todos que ao acender a candeia também fizesse um. "Eu fiz um pedidozinho sim, não só pra mim, mas para o coletivo. Mas é de cada um, cada um tem sua maneira de viver a procissão".
Ao final da procissão o mastro do Divino Espírito Santo foi levantado e a festa começou. Ali mesmo na praça a Sussa dos Kalungas foi dançada. Dona Fiota, Dona Luzia e as demais mulheres da comunidade colocaram suas saias para rodar. Nascida de tradições africanas, essa dança reflete toda a alegria desse povo. Com um ritmo marcado pelo som da viola, do pandeiro, da sanfona e da caixa (espécie de tambor), é uma tradição que envolve toda a comunidade através da música e da dança, caracterizada por giros em que as mulheres equilibram garrafas de cachaça sobre a cabeça. Dona Fiota foi uma das mulheres que dançou com a garrafa. Ela contou que aprendeu a dançar aos 10 anos e que uma madrinha a ensinou. "Minha mãe não sabia, mas agradeço muito por conhecer minha madrinha que me ensinou".
E assim foi iniciado a etapa do XXII Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, na Vila de São Jorge. Sob a proteção do Divino Espírito Santo vamos viver muitos encontros e trocas até o dia 30 de julho, quando o mastro será baixado marcando o fim da festa.