Por Paulo Eduardo Castro | Foto: Lucas Borobo, em 20/09/25
No dia 17/09, no quinto dia do XXV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, recebemos na Vila de São Jorge a mestra Maria José Menezes, mais conhecida pelo apelido Zezé, a Primeira Ekedi (cargo feminino de enorme responsabilidade dentro das religiões de matriz africana) de Oxaguian das Caixeiras do Divino Espírito Santo da Casa Fanti Ashanti, no Maranhão. Zezé faz parte da Família Menezes, que desde 1958, vem sendo guardiã dos ritos e manifestações culturais maranhenses, além de enormes parceiros do Encontro.
A oficina foi uma celebração da cultura caixeira, onde um grupo de mulheres batucam e cantam com fervor ao Divino. Em respeito, todas as participantes deveriam estar vestidas de acordo com as recomendações da mestra: saias longas, abaixo dos joelhos, blusas que cubram o corpo e com mangas escondendo os ombros e roupas de cores claras (branco, azul claro e amarelo, por exemplo), evitando preto, azul escuro, verde e marrom. Essas determinações fazem parte das rodas e manifestações de caixa para o Santo, tanto homens quanto mulheres devem estar com a vestimenta apropriada, sem receio às diferenças de gênero.
“Meu Divino Espírito Santo
Quem é voz e quem sou eu
Sou uma pobre pecadora
E vós um senhor Deus
Militana, militana
É a flor da mormorana
Abriu na segunda-feira
Reacendeu toda semana
Meu Divino Espírito Santo
Divino consolador
Consolai a minha alma
Quando deste mundo for”.
Em círculo, a mestra foi a caixeira-régia, enquanto umas cantavam, outras acompanhavam Zezé no ritmo dos batuques. Os cânticos, como o da Militana, supracitado acima, são cantados soletrando, de sílaba em sílaba, esse hábito é comum nas cantorias porque é um exercício de esforço fonético e de entrega emocional, que visa a clareza da fé expressa em cada estrofe, verso e palavra do cântico. Os tambores, tradicionalmente, são feitos de pele de animal e jenipapo, além de enfeitados com adereços coloridos. Essa etapa de enfeitar é vista com muito apreço dentro da crença, já que existe um histórico e uma tradição das mulheres predominarem os batuques do tambor, enfeitá-los é deixar mais sensível, feminino e autêntico um dos instrumentos mais importantes para a celebração do Divino.
A oficina traz luz a uma cultura pouco reconhecida dentro das manifestações culturais e tradicionais do Brasil, que para além da irmandade feminina, reafirma um cargo de importância para a mulher dentro do sagrado.