Por Narelly Batista | Foto: Gabriela Fernandes, em 17/09/25
Seu Francisco Bernardo Santos é poeta, palhaço e erudito sem estudo da vida popular: faz rir e faz pensar quando se farda de Mateus do Reisado. Francisco é o Mestre Palhaço Mateu Pinga Fogo. Lá de Juazeiro do Norte, no Ceará, aprendeu a guardar na memória versos bons que rimam e arrematam sua jornada.
Ele é dessa gente que emenda uma conversa na outra e você não se preocupa em interromper porque o rumo da prosa já se orientou pela expertise de anos vendo gente se amolar, quando o bom da vida é gargalhar. Poeta dos bons, que emociona pela oralidade, nunca escreveu mais que seu nome - limpo e respeitado, como adverte na nossa prosa. Ainda sim, mora na sua cabeça centenas de rimas, versos, longos textos e ladainhas.
Dançando Reisado e rimando histórias pelos lugares que passa, gosta de explicar que é tudo pela fé. “É Deus, Nossa Senhora, Maria e José, os Três Reis do Oriente”. Aos 74 anos, é um dos mais antigos Mateus, gira, ginga, diverte e tira onda com o pandeiro que é um fiel aliado do bom personagem que encantou seus caminhos.
Para além da brincadeira em que é mestre legítimo, seu ofício de produzir rapadura (de todo tipo), fez com que gente importante e simples reconhecesse “Mestre rapadureiro”. “Pra fazer uma boa rapadura tem de ter força. Não é todo mundo que faz rapadura da preta e da clara com o mesmo sabor. Uma hora eu trago”, prometeu.
No XXV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, Mestre Mateu Pinga Fogo partilha os momentos com o Reisado dos Irmãos, que o convidou para o festejo, ciente de que não basta que um grupo seja reconhecido, é preciso que toda essa diversidade e riqueza de mestres de diferentes grupos também seja conhecido pelo Brasil.