Por Narelly Batista | Foto: Michelly Matos, em 17/09/25
Cícera Flatenara Azarias da Silva sempre foi uma menina de brincadeiras de desafio. Aos dois anos, ganhou uma espadinha para reproduzir os movimentos do pai brincando Reisado. Via os tios jogar e uma tropa fazer fogo no asfalto quando arrastavam a espada no chão anunciando que o folguedo estava para começar.
Hoje, aos 28 anos, é ela quem abre o caminho da tropa, que antes composta só por homens, reúne agora uma porção de meninas sob seus cuidados. Mestra Flatenara, como é conhecida, comanda o Reisado Mirim Santo Expedito composto apenas por mulheres e o Reisado Manoel Messias, grupo de tradição familiar que seu pai Cicinho - o fenômeno das espadas, deixou aos 44 anos, quando foi assassinado na porta de casa.
No Ceará, Mestra Flatenara tem seu nome conhecido não só em Juazeiro do Norte, onde nasceu e vive, mas em todo o estado que mergulha na tradição do Reisado e das buscas de um Jesus dos presépios e das encruzilhadas. Ela foi a primeira mulher a jogar espadas, uma herança que seu pai deixou e ela cultivou porque sabia do orgulho e desejo dele. Atualmente, seu grupo é cheio de mulheres, mães e amigas que brincam, jogam-se nas ruas que são tomadas por quem brinca e reinventa a vida.
“Minutos antes de acontecer o assassinado dele,(...) parecia até que ele tava adivinhando. Me disse que no dia que ele falecesse, já tava tranquilo porque tinha Nara (eu) que sabe brincar e Mecim (meu irmão) que sabe fazer as vestimentas. Em todo canto que a gente anda em Juazeiro tem um legado meu, uma espada, uma veste e vocês”
No XXV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, Mestra Flatenara contou sua história aos prantos falando sobre a falta de paz que a ausência de seu pai provoca, mas como o amor dele pelo Reisado move seus passos. Flatenara é filha de Mestre Cicinho, que é filho de Mestre Zezinho e ambos descansam na certeza de que ela conduzirá com coração e paixão a brincadeira que colore as ruas de Juazeiro, no Ceará.