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Cadeias da Sociobiodiversidade: Valor do agroextrativismo é discutido em encontro na Chapada dos Veadeiros

Por Letícia Romani | Foto: Lucas Borobó, em 15/09/25

Nesta segunda-feira (15), o terceiro dia do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros contou com oficina voltada ao Agroextrativismo. Diferentes associações apresentaram suas formas de trabalho que primam pelo respeito à natureza enquanto participam ativamente do comércio.

Pedro Bruzzi, Engenheiro Florestal da Fundação Pró-Natureza, a Funatura, abriu a oficina com reflexão sobre a importância de utilizar o comércio como aliado da natureza, povo e cultura. Quando feita de forma a respeitar a sociobiodiversidade, com uma renda que valorize o trabalho, a venda de produtos naturais, como os frutos do Cerrado, tem o poder de incentivar a permanência dos povos originários em seus territórios.

Uma das organizações que apresentou a força de seus trabalhos foi a Central do Cerrado. Fundada em 2004, surge como iniciativa de 19 instituições comunitárias agroextrativistas que trabalham com coleta e processamento de produtos vindos da natureza brasileira. As empresas se unem para comercializar essas matérias, como itens produzidos por quebradoras de coco do Maranhão e catadores de pequi no norte de Minas Gerais, a fim de gerar e complementar a renda dos povos que compõem a base do Brasil. 

Luiz Carraza, Secretário Executivo da Central do Cerrado, aponta a importância da organização como ponte entre os povos que coletam e produzem com aquilo que a natureza oferece, de forma respeitosa, junto às empresas que desejam fazer uso desses materiais. As dificuldades apontadas por aqueles que vivem do agroextrativismo eram semelhantes: consomem, trocam e comercializam localmente, mas não conseguem expandir esse comércio. Enquanto empresas, como o grande varejo e a indústria de cosméticos, se queixavam da falta dos produtos naturais. 


O desejo é unir o comércio ao desenvolvimento sustentável. A Central do Cerrado atua na estratégia para comercialização em maior escala se desrespeitar o que a natureza oferece. Uma das maiores dificuldades apontadas por Luiz dentro do agroextrativismo é apresentar o valor de produtos que grande parte da população brasileira não está acostumada a consumir e por isso não enxerga sua importância.

“Gosto de brincar que o papel dos que trabalham com a sociobiodiversidade é apresentar o Brasil para os brasileiros. As pessoas precisam entender que a maioria dos produtos naturais que elas consomem, que deixaram de usar gordura animal para usar a vegetal, tem relação direta com os povos originários, com a agricultura familiar, com a natureza.”, explica Luiz. 

Nayara Gomes, que atua na Cooper Frutos do Paraíso, aponta a importância da união da agricultura familiar ao grande comércio para a renda desses povos. Assim como Luiz, Nayara acredita na importância de agregar valor financeiro aos produtos naturais para que as pessoas que os manuseiam possam continuar a viver em seus territórios com qualidade de vida. A associação existe desde 2006 agregando valor aos produtos de cooperados da agricultura familiar, além de fomentar o turismo de base comunitária para movimentar a economia local.

Agregar valor a produtos produzidos de forma a respeitar a natureza, se mostrou indispensável. Del do Sertão, uma das líderes da Associação dos Produtores e do Meio Ambiente do Sertão, APROMAS, conta sobre os princípios da organização e o projeto que existe desde 1996 para defender a soberania da sociobiodiversidade. A estratégia para que turistas e outros compradores compreendam o valor, a nível financeiro e social da castanha, foi criar um cartaz nomeado “Boas Práticas na Prática Baru da Chapada”, que mostra todo o processo de produção até chegar às mãos de quem compra.

A dificuldade de mostrar o Brasil aos brasileiros e o valor de dar valor passa por diversos caminhos traçados desde a infância, “Na escola nós aprendemos por anos sobre os Maias, Incas e Astecas, que são inegavelmente importantes, mas onde estão os Kalunga, as quebradoras de coco, a agricultura familiar? Nós precisamos entender nosso povo para defender nossa história.”, pontua Luiz. Junto a ele, Pedro também discute sobre a importância de priorizar as produções dos povos brasileiros que estão em contato respeitoso com a natureza e deixar para trás “o Agro que destrói nossas florestas, nossa cultura e nossas raízes.”.

As organizações se unem para reforçar que esse papel não é somente da sociedade, mas do governo. “Ano que vem teremos eleições, os políticos começam a bater em nossas portas e é importante que eles estejam entre nós sempre, independente de eleição.”, aponta Pedro Bruzzi. Luiz complementa, “Tudo que consumimos é um ato político, comer é um ato político, porque nesse momento você está financiando pessoas e indústrias.”. Ele esclarece que na atualidade vivida é praticamente impossível alimentar somente o comércio que respeita a biodiversidade, mas é possível fazer escolhas ecológica e socialmente conscientes. 


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