Por Isadora Otto | Foto: Michelly Matos , em 15/09/25
Neste domingo (14/09), a Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge foi palco da oficina de jongo com o grupo Jongo Iracema (GO) e Mestra Jociara (SP) durante o XXV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros. A reunião desses dois grupos proporcionou um encontro que simboliza o diálogo entre as regiões Centro-Oeste e Sudeste no fortalecimento da rede de jongueiros no Brasil. Para Mestra Jociara, “o jongo é um só, separado por territórios”. Com essa fala, a jongueira reforçou como essa rede de jongueiros, quando ginga, se torna “família e resistência”.
O Jongo Iracema, fundado em 2012 em Anápolis por Mestre Tuísca, se apresentou pela primeira vez no Encontro de Culturas Tradicionais em 2023 e retornou neste ano de celebração trazendo Mestra Jociara, de família tradicional de jongos do Rio de Janeiro, para estudos e trocas partilhadas com o público do Encontro. Apesar de se inspirar no Jongo da Serrinha, o Jongo Iracema adapta o jongo no contexto de Goiás, promovendo a cultura afro-brasileira através de apresentações e oficinas. “Tabiado”, “mancador” e “amassa café“ são os passos de dança do jongo utilizados na prática do jongo do grupo e demonstradas nesta oficina.
Já o Jongo Filhos da Semente, fundado em 2012 por Mestra Jociara em Indaiatuba (SP), tem na história de sua fundadora a herança de Mestre Tio Juca, pai de Mestra Jociara Rodrigues, líder do Grupo de Jongo Sementes da África, um grupo tradicional da Barra do Piraí (RJ), em que nasceu e cresceu. Jociara é pedagoga e dividiu seus saberes com o Jongo Iracema e participantes do Encontro de Culturas.
A participação no Encontro foi um momento de troca e fortalecimento da tradição. Mestre Tuísca manifestou que “a cultura de matriz africana não é bem vista pela sociedade. Então, nós que trabalhamos com cultura e arte temos que ser pessoas resistentes. (…) Precisamos de luta, e a nossa luta é de resistência”.
O jongo é uma expressão artística que manifesta uma cultura afro-brasileira que envolve dança, cantos, dança em duplas, caracterizada pelo uso de tambores e rodas coletivas. Para a mestra Jociara, “o jongo são versos cifrados metaforicamente tocados criados como uma ferramenta de liberdade”.
DESTAQUE DE FALAS NA RÁDIO SÃO JORGE FM
Mestre Tuísca (Jongo Iracema – GO)
“A cultura de matriz africana não é bem vista pela sociedade. Então, nós que trabalhamos com cultura e arte temos que ser pessoas resistentes. (…) Precisamos de luta, e a nossa luta é de resistência.”
“Eu tive que romper com o sistema religioso para poder viver a minha cultura. A minha arte estava dentro de mim, e hoje compartilho essa arte para mostrar que o jongo e a capoeira são heranças da ancestralidade.”
Mestra Jociara (Filhos da Semente – SP)
“Eu falo sempre que o jongo é um só, separado por territórios. Não importa onde esteja, o jongo é família e resistência.”
“A memória positiva da presença no Encontro de Culturas que eu gostaria de ter é a cultura viva: estar sendo entrevistada por um indígena que sabe o seu lugar e se representa, porque é disso que se trata o jongo: identidade e pertencimento.”