Por Letícia Romani | Foto: JP Îansanã Tupinambá, em 15/09/25
O Bar do Seu Claro foi casa da Contação de Causos no segundo dia do XXV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros
Real ou fantasioso, com ritmo e expressões regionais, os personagens tomam forma através de gestos e entonação da fala, uma forma de repassar histórias geracionais através da oralidade. Com apoio da linguagem simples, que facilita a memorização e o entendimento, a Contação de Causos é mais uma forma que as comunidades tradicionais e populares materializam memórias.
No Bar do Seu Claro, as senhoras que lapidaram São Jorge compartilham memórias que passam por todas as gerações de suas vidas. Isabel conta sobre quando viu um ser, não era homem, não era animal, era metade de cada e mesmo assim insistiu para que não o machucassem, porque “Jesus pode vir à terra para nos testar em diferentes formatos.” explica a senhora.
Jaqueline, ou Dona Jaque, conta que a família da realeza escocesa há tempos visitou São Jorge e em troca de uma doação abastada, exigiram que o busto do príncipe fosse posto no meio da Praça do Pelé. Jaque jurou de pé juntos que a história era verdadeira, mas seus amigos foram logo corrigindo as informações que guardavam de jeitos diferentes, uns dizem que não era tronco e sim cabeça. Mas, aos risos, todos concordaram com Jaque, “Quem conta um conto, aumenta um ponto.”.
Bob Warley é neto de Dona Maria Chefe, uma das importantes personagens nativas da Vila de São Jorge, que já não está entre nós, mas que deixou muitas histórias. Em sua participação, os causos foram forma de repassar e homenagear as mulheres de sua família que ama. “As mulheres da minha vida são minhas inspirações e verdadeiras guerreiras por origem. São Jorge é formado e carregado por mulheres que contam histórias. Eu honro a memória da minha avó proseando sobre ela”, comenta Bob.
Todos receberam seu tempo para compartilhar com locais e turistas seus Causos, alguns engraçados, outros sensíveis e até mesmo assustadores. Cada um a sua forma, com diferentes entonações, regionalismos e ritmos, histórias foram compartilhadas em uma mesma expectativa: não caírem no esquecimento. Se quem conta um conto aumenta um ponto, quem conta um Causo compartilha uma história.
*A programação foi proposta pelos moradores da Vila de São Jorge no XXV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros,