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Antepassados em terra: Sussa, a dança ancestral

Por Letícia Romani | Foto: Michelly Matos , em 14/09/25

“A Sussa representa proteção, Deus é quem nos guia na dança. Nessa proteção eu vim e nessa proteção vou morrer, minha fia.” - Dona Luzia

Uma mistura de viola, pandeiro, sanfona e caixa, a Sussa é uma dança herdada de africanos escravizados, tradicional para os Kalunga. A manifestação cultural é marcada pelos giros dados por mulheres, que aceleram com o ritmo da música, enquanto equilibram uma garrafa de cachaça na cabeça. Dança tradicional que surge para pagar promessas, em que geralmente os pedidos são direcionados à prosperidade para a lavoura. Hoje, além da visão religiosa e de festividade, há o valor de manutenção histórica, que honra a ancestralidade: “Se você pensa que quem morreu não tá vivo, então quem tá morto é você. Nossos antepassados estão aqui entre nós e a gente pode se conectar com eles na dança.”, afirma Deusamir, ou “Fiota Kalunga” como prefere ser chamada.


Foto: Michelly Matos | Tocadores da Sussa Kalunga 

Sob a lua, nas ruas de São Jorge, gerações se unem para a dança. Crianças, jovens e idosas, Sussa Kalunga e Sussa Mãe Ana de Natividade, do Tocantins, unidos por um ritmo musical que é ao mesmo tempo forte e sensível, se juntam descalças vestindo saias cheias de balanço para resgatarem sua ancestralidade e cultura. “As músicas e as danças contam histórias, essa dança representa uma forma de encontrar a liberdade e repassar as crenças do nosso povo”, é como Romilson dos Santos, um dos representantes da Comunidade do Sítio Histórico e Patrimônio Cultural Kalunga, vê a Sussa. 

A dança esteve presente em diferentes partes da abertura do evento. Durante a tarde uma oficina convidou todos para conhecerem a profundidade e alegria presentes na Sussa, pela noite, ao pé do mastro do Divino Espírito Santo, a celebração foi marcada pela dança, que também ocupou o palco do evento. Júlia, uma jovem de Porto Alegre, conta que acompanha o evento desde 2020 e nesse ano se organizou para participar da celebração, “Eu me emocionei acompanhando a dança, ver tanta cultura junta, as crianças se unindo para dançar, é muito lindo, nunca vi nada igual nesse nível simbólico”, conta.

Foto: Michelly Matos | Sussa Mãe Ana de Natividade (TO)

A Sussa carrega a potência que uma manifestação cultural como essa possui, com festejo, religiosidade e o seu papel social em garantir a manutenção e propagação das crenças ancestrais como símbolo de resistência e história. “Desde 2001 venho pra cá dançar a Sussa, enquanto eu danço eu rezo, isso pra mim é representação divina. Tudo que nos encosta dança com a gente, nosso povo, os que nos visitam e nossos ancestrais. Que continue sempre assim.”, conta Dona Luzia, idosa Kalunga que participa há anos do evento. 


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