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Assentando a leitura

Por Sinvaline Pinheiro

Encontro de autores indígenas, quilombolas e cordelistas, um momento de ajuntar falas, modos, sentimentos e a escrita de gente diferente e notável. Uma mistura literária que traz ao público nomes até então não conhecidos da grande mídia.

São Jorge, a entrada do portal da Chapada dos Veadeiros, no feriado da Páscoa ficou cheio de turistas de várias partes do Brasil, que aqui se depararam com um evento literário de particularidade única, inclusive, algo que não foi programado e chega compenetrando o ambiente literário.

Laryssa Galantini é uma professora de Alto Paraíso de Goiás que vê o mundo sadio a partir do uso das raízes medicinais, nos cogumelos, nas pessoas e nos alunos que se destacam pela curiosidade nos livros. Assim pensando, ela trouxe as meninas Jhenifer kelly Oliveira dos Santos e Ketlen Ferreira de Souza para assistir as oficinas dos cordelistas do I Encontro de Culturas Literário da Chapada dos Veadeiros.

Jhenifer e Ketlen são moradoras do assentamento ESUSA, que fica a 40 km de terra da cidade de Alto Paraíso. Local que abriga 46 famílias assentadas que lutam pela sobrevivência cultivando a terra. Olhar tímido, rosto queimado de sol, roupas simples e sorriso franco, uma delas traz uma história inédita de amor à leitura.

Jhenifer desde os 11 anos aprecia a leitura de diários e considera importante conhecer a vida das pessoas. Sempre sonhou em juntar livros, ter uma biblioteca que possa espalhar leitura na comunidade. Mas tudo era tão difícil por ali...

Persistindo nesse ideal, sua casa humilde passou a receber colegas para ler, fazendo dali um o abrigo de leitores mirins, que nessa segunda sala de aula podiam brincar, almoçar e sonhar. Uma festa afastando a rotina da pequena comunidade.

A iniciativa despertou em toda a família o amor aos livros. O pai resolveu aprender a ler para estar mais perto do sonho da filha, a mãe fez o EJA (Educação de Jovens e Adultos) e sonha ser Assistente Social...

Com a pandemia, aumentou o número de livros e leitores que se ajeitavam felizes no quarto de Jhenifer. Mas chegou o período chuvoso e a estrutura da velha casa não segurou as goteiras, molhando os livros. O avô, um grande admirador da neta, preocupado, até iniciou a construção de um cômodo para abrigar livros e leitores, mas não foi suficiente. A cada dia aumentava a demanda por espaço. Então, nas conversas em família, nasce uma ideia genial: uma placa na bifurcação das estradas, caminho de turistas!

E na tábua, recortada artesanalmente pelo pai, mãos e tinta fazem nascer um letreiro poético e certeiro, nada podia ser errado:

ME AJUDA A COSTRUIR UMA BIBILIOTECA, ASS\ Jhenifer. EZUZA. LOTE 17.

Passantes leram a placa: alguém queria levar leitura, dar asas a centenas de crianças do Assentamento ESUSA!

Um grupo de ingleses se interessou e a curiosidade os levou a conhecer de perto essa história. E a partir da realidade do local, do sonho da família e do interesse dos alunos, o projeto se tornou real. A comunidade seria beneficiada com a tão sonhada biblioteca.

Jhenifer, família e assentados acompanharam a construção de um prédio em alvenaria e a chegada de centenas de livros. Valeu a persistência.

A placa se tornou relíquia, NADA foi errado, e no Assentamento ESUSA é destaque a BIBLIOTECA COMUNITÁRIA DA JENIFER.

E assim seguem os sonhos...

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