Por Marcos Vieira | Foto: Raissa Azeredo, em 18/07/25
Ao abrir a Roda de Conhecimento realizada na sexta-feira, 18, durante a 17ª edição da Aldeia Multiétnica, a mediadora, bióloga Daniela Ribeiro, fez uma provocação: por que a Medicina Tradicional Brasileira (MTB) ainda não se tornou o 30º procedimento entre as PICS liberadas pelo SUS?
PICS são Práticas Integrativas e Complementares. Segundo o Ministério da Saúde, são abordagens terapêuticas que têm como objetivo prevenir agravos à saúde, promover a recuperação e a manutenção da saúde, enfatizando a escuta acolhedora, a construção de laços terapêuticos e a conexão entre o ser humano, o meio ambiente e a sociedade.
Entre as práticas autorizadas no país, estão a Medicina Tradicional Chinesa e a Shantala, que surgiu na Índia. Mas, como destacou Daniela Ribeiro, embora a Medicina Tradicional Brasileira — composta por práticas utilizadas há milhares de anos por povos tradicionais — exista e seja amplamente praticada, o SUS ainda não a incorporou como uma das PICS. “Isso impede, por exemplo, que aqueles que detêm conhecimento ancestral possam entrar em um hospital para auxiliar na cura”, completou.
Para o indígena Joseph Taurepang, essa falta de reconhecimento implica em outro problema: o uso indevido de elementos de rituais de cura dos povos indígenas, como o rapé e a ayahuasca.
O erveiro Tunuly Yawalapiti compartilhou detalhes do seu trabalho, revelou que em breve lançará um livro para difundir seus conhecimentos e lembrou práticas de origem indígena que são amplamente utilizadas hoje, como as garrafadas, os banhos de ervas e até mesmo os xaropes.
Alto Paraíso de Goiás deu um passo importante ao ser incluída pelo Ministério da Saúde como uma das cinco cidades a receber recursos para a implantação de uma farmácia viva. O objetivo é assegurar o acesso da população usuária do SUS a fitoterápicos com qualidade, segurança e eficácia. Além disso, a estratégia prevê a promoção e o reconhecimento de práticas populares e tradicionais no uso de plantas medicinais e fitoterápicos.
O uso medicinal da cannabis também foi tema da roda, assim como a busca por formas de tornar a planta acessível para a produção de medicamentos com eficácia comprovada.
A Medicina Tradicional Brasileira é diversa, composta por saberes específicos de cada povo, transmitidos oralmente de geração em geração. A roda de conversa buscou abordar práticas comuns que precisam ser reconhecidas e valorizadas pelos sistemas de saúde.
A proposta é debater caminhos para a construção de uma política pública que fortaleça os saberes ancestrais, garantindo que sejam respeitados, reconhecidos e acessíveis a toda a população brasileira — em consonância com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A discussão sobre a Medicina Tradicional Brasileira também envolve o direito dos povos e de suas crenças de estarem presentes em todos os espaços, sem qualquer tipo de discriminação.