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Mulheres indígenas apresentam realidade da saúde em suas aldeias durante Roda de Conhecimento

Por Marcos Vieira | Foto: Raissa Azeredo, em 18/07/25

Mulheres indígenas presentes na 17ª edição da Aldeia Multiétnica puderam apresentar a realidade do atendimento de saúde em suas aldeias durante a Roda de Conhecimento realizada na sexta-feira, 18. O espaço de escuta e, principalmente, de interação contou com a presença de duas profissionais do Ministério da Saúde (MS): Camila Carloni Gasparro e Júlia Garrafa.

Ambas atuam na Coordenação-Geral de Atenção à Saúde das Mulheres (CGESMU). Camila, que é coordenadora de Enfrentamento à Mortalidade Materna, abriu a roda de conversa destacando os esforços do MS para reduzir a mortalidade de mulheres indígenas durante a gravidez. As estatísticas demonstram a urgência do tema.

Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realizaram um estudo que aponta uma taxa de mortalidade materna entre indígenas de 115 a cada 100 mil nascimentos. Entre não indígenas, esse número é de 67 para cada 100 mil. As mortes por câncer de mama e de colo do útero também apresentam índices elevados entre as mulheres indígenas.

Segundo Camila, o objetivo é reduzir esses números atuando diretamente nas aldeias, com respeito aos conhecimentos e costumes dos povos originários. Ou seja, garantir a interculturalidade, considerando os modos de vida, os saberes tradicionais e as experiências das mulheres indígenas.

Júlia Garrafa, assessora técnica do MS, é médica ginecologista e obstetra, e falou sobre um material recém-produzido: um guia pré-natal intercultural, que orienta profissionais de saúde a oferecer um cuidado sensível e adequado, respeitando a cultura dos Yanomami.

A médica também mencionou a Rede Alyne, estratégia de reestruturação da antiga Rede Cegonha, que tem como objetivo reduzir a mortalidade materna em 25% no país. Para as mulheres negras, a meta é de redução de 50% até 2027. Júlia ressaltou ainda a importância de que Estados e Municípios se organizem para implantar redes de atenção básica nos territórios indígenas, garantindo o acesso universal à saúde.

As mulheres indígenas presentes chamaram a atenção para o que consideram fundamental neste momento: avanços no atendimento disponibilizado nas aldeias por meio da Sesai (Secretaria de Saúde Indígena), órgão do governo federal responsável por coordenar e executar a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas.

Também foi enfatizada a importância do respeito à medicina tradicional e à sabedoria ancestral no momento do parto. O cuidado que se pretende verdadeiramente integral, intersetorial e intercultural passa, por exemplo, pelo resgate das parteiras, mas, principalmente, pelo reconhecimento delas dentro dos próprios territórios.

Dois exemplos chamaram a atenção durante a roda: na aldeia Fulni-ô, em Alagoas, há atualmente apenas uma parteira, que raramente acompanha partos devido ao receio, imposto por profissionais da medicina convencional, de que a prática possa representar risco para a mãe e o bebê.

Mulheres Kalunga também ressaltaram a tentativa de pôr fim às parteiras em seus territórios, de invisibilizar profissionais de saúde que são originários do próprio território e, principalmente, a violência obstétrica sofrida por muitas quando vão dar a luz em hospitais.   

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