Por Narelly Batista | Foto: Hully, em 13/12/23
Com o objetivo de abordar a eficácia das políticas públicas para impulsionamento do turismo sustentável e a valorização das riquezas culturais e naturais, a edição especial do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros trouxe para o Fórum de Turismo e Cultura, a roda de conversa “Horizontes Sustentáveis: uma análise das políticas públicas para o Turismo e Cultura no Estado de Goiás”. Nela foi apresentada a discussão em torno da garantia do desenvolvimento socioeconômico das comunidades tradicionais compreendendo a importância da cultura. Como expositores estiveram Tião Soares, Giovanna Tavares e Denise Silva.
Giovanna Tavares é professora, turismóloga, Coordenadora do Observatório Estadual de Turismo, Presidente da ABBTUR GO e da Rede Nacional de Observatórios de Turismo, começou sua participação contando que o turismo brasileiro demorou muito para entender a importância da cultura. Isso porque o turismo é em si uma atividade capitalista e em muitas situações afetou comunidades tradicionais abrindo espaço para grandes resorts.
Para ela, essa realidade afastou por muitos anos a constituição efetiva de políticas públicas que unissem turismo, cultura e preservação ambiental e de costumes. A professora defende que “financiamentos e leis não podem ser somente para produtos culturais. Necessário compreender como processo de educação, cultivo de valores da cultura. Necessário aprender a respeitar o território do outro. Fala-se muito de economia, dinheiro, mas não se entende que o desenvolvimento é social. As pessoas precisam sobreviver e ter qualidade de vida, e não somente trabalhar”.
Um exemplo da fala de Giovanna é a própria Vila de São Jorge, que possui uma população majoritariamente ligada ao turismo e por este motivo possuem pouco tempo para desfrutar dos atrativos naturais e culturais do território. Assim, é preciso um exercício cotidiano para que a atividade turística não destrua a construção cultural da região, um chamariz importante para o turismo.
Denise Silva, presidente do Instituto de Pesquisa da Diversidade Cultural (Ipedi), trabalha no Mato Grosso do Sul com 8 povos indígenas, 90 aldeias e comunidades ribeirinhas que se movimentam de acordo com os fluxos das águas. Uma realidade desafiadora para trabalhar o valor cultural como potência econômica. Denise conta que com este intuito, o instituto resolveu assessorar comunidades a inscreverem-se no edital da Lei Paulo Gustavo como caminho de uma nova observação sobre os costumes e o fortalecimento deles.
Entre os participantes, Pâmella de Castro Miranda Clemente que é Secretária de Cultura de Formosa, conta que sua origem vem do turismo e que isso por muitas vezes dificultou a compreensão do funcionamento da cultura e de como as duas pautas podem se relacionar. Tudo mudou, segundo ela, quando a Secretaria passou a “ganhar confiança do artista local a partir de ações como a contratação de artistas locais, o lançamento de editais simplificados e como isso auxilia na preservação do Parque Nacional do Itiquira”, ao qual ela também passou a ser gestora.
O presidente da Associação Brasileira de Hotéis do estado de Goiás (ABIH-GO), Fernando Carlos Pereira, agradeceu a oportunidade de ouvir a comunidade local e os expositores. Ele acredita que “turismo e cultura são siameses”. Fernando possui um hotel em Trindade, cidade ligada ao turismo religioso, onde ele conseguiu ver como a cultura fortalece o turismo. O empresário defendeu que colegas do ramo da hotelaria goiana vem buscando imprimir em seus empreendimentos essa força e potência. Lauro Jurjeaitis, membro da Associação Veadeiros, também contou que o cerne da Chapada dos Veadeiros é o conceito da Sustentabilidade e coexistência do turismo, da cultura e outros setores.
Tião Soares, diretor de Promoção das Culturas Populares, concluiu a conversa falando sobre a importância dos municípios, estados e governo federal sobre a governança e da corresponsabilidade entre eles. De acordo com ele, rodas de conversa como essas são fundamentais para a efetivação das políticas de atenção ao turismo de base comunitária e de experiência, com um olhar sensível para as comunidades tradicionais e populares.