Por Texto e foto: Allyne Laís, em 31/07/22
Dona Luzia é muito amada por aqui.
Miudinha, olhar sério, cabecinha cheia de uma sabedoria preciosa, porque não tá em papel algum. Tá ali, dentro dela. E pra aprender, é preciso conversar, se achegar. Fui fazer um retrato seu, pedi licença e esse diálogo se seguiu:
- Dona Luzia, a senhora é tão bonita.
- Ah, não! Tenho pouca carne, tô muito magrinha.
- A senhora andou adoentada?
- Não, graças a Deus eu tenho muita energia, não posso ficar parada.
- Ah, então que bom que a senhora não tá magra de doente. E olha, tá todo mundo tentando emagrecer pra ter seu corpinho.
Ela riu. O olhar mudou. Acho que consegui me achegar.
Perguntei se ela tinha cachaça. Ela me mostrou uma e depois outra e quando dei por mim, ela estava me mostrando ervas e raízes, cada qual num pacotinho com etiquetas escritas à mão, identificando o que era e para que servia.
Conversamos um pouco. Então ela diz:
- Eu gosto de conversar assim, de um jeito mais simples. Lá na roda eu fico nervosa. Dá medo de falar coisa errada. Ah, se eu fosse letrada eu seria muito diferente.
- Dona Luzia, seu saber vem da experiência e a gente não aprende isso lá na faculdade não. Olha o tanto que a senhora sabe das plantas, e isso nem médico aprende. O conhecimento que a senhora tem, a gente que é letrado, não aprende.
Ela sorriu mais. E eu fiquei feliz por fazê-la sorrir.
Quem vê a "pouca carne" não faz ideia do quanto de sabedoria cabe naquele corpo.