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A memória muito além da preservação

Por Joselicio Junior | Foto: Allyne Laís, em 26/07/22

Podemos olhar a cultura, a tradição de múltiplas formas. Desde um olhar de busca de uma pureza, de uma essência, até um olhar da cultura viva, em constante transformação, aprimoramento, evolução. Buscar um  equilíbrio não é fácil. Principalmente porque a preservação de uma cultura depende de um ciclo fundamental que envolve o respeito e capacidade de transmissão de conhecimento dos mais velhos, como também o despertar do interesse e aprendizagem dos mais novos.

Essa construção cultural cíclica se estabelece a partir do que  Adão Fernandes da Cunha do Quilombo Kalunga expressou na primeira roda de prosa do Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadieros. Adão falou sobre a importância dos fazeres e saberes tradicionais que compreendem uma teia complexa de conhecimento. Conhecimentos estes que passam pela relação com a terra, com as plantas, com os experimentos que produzem medicamentos e por sua vez estabelecem uma contribuição singular não só para sua comunidade, mais para o conjunto da sociedade. 

Neste sentido, ouvir as mulheres quilombolas esbanjar conhecimento, trazendo elementos do autocuidado, oferecendo tudo o que a natureza nos possibilita, nos provoca  e nos convoca a pensar questões centrais:  primeiro a importância fundamental da preservação, catalogação  e sistematização dessa memória e desse conhecimento; e para além da preservação, a necessidade de romper barreiras para que essa produção esteja na vanguarda de uma outra sociedade possível. 

Se no colonialismo os quilombos foram a ponta de lança não só da resistência, mas da produção concreta de outra forma de organizar a sociedade, a quilombagem contemporânea também tem muito a oferecer para mudarmos a sociedade que vivemos hoje!